na Igreja de S. Miguel da Palmeira
2 -Capela de S. José do vínculo de S. Lourenço,
vendo-se no caixão da abóbada o brasão acima reproduzido
3 -Inscrição na parede lado nascente da Capela vinculada dos Beleza de Andrade
Família Beleza de Andrade - Vínculo de S. Lourenço
Por Rui Moreira de Sá e Guerra
O Dr. MANUEL DE OLIVEIRA n. a 29-8-1618 na freguesia de S. Miguel da Palmeira e o assento de baptismo é do seguinte teor: Nasceo m.el fº de fra.co doliveira e de sua molher mª Jorge aos 29 de Agosto de 1618 annos foi baptizado por mj antº de ds. aos 31 do mesmo mês; foram padrinhos pantaliam Caldeira e anna…[1].
Foi crismado pelo bispo do Porto D. João de Valadares, em 20-5-1631, juntamente com os irmãos Inácia e Jerónimo de Oliveira, na Igreja de S. Miguel da Palmeira.
Matriculou-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra em 13-10-1636 e aí tomou o grau de bacharel em 27-4-1641.
No Arquivo da Universidade de Coimbra, na data da matrícula num dos anos lectivos, em 14-10-1639, de Manuel de Oliveira filho de Francisco de Oliveira de Matosinhos, vem logo a seguir, na mesma data, a matrícula, também na Faculdade de Cânones, do parente Marcos de Andrade, filho de Manuel Jorge de Matosinhos, diz a matrícula, mas exactamente era da freguesia de S. Miguel da Palmeira, sendo este Manuel Jorge, mestre piloto e senhorio de seus navios, pai de D. Maria Jorge de Andrada Rua mulher do capitão António Gonçalves Beleza que foram os pais de Manuel Beleza de Andrade, o já aludido primeiro administrador do Vínculo de S. Lourenço.
Foi abade da freguesia de S. Veríssimo de Nevogilde, no termo de Lousada, tendo tomado posse da Igreja em 24-7-1654 e aí exerceu o múnus sacerdotal durante 27 anos.
No livro de registos paroquiais da Igreja de S. Veríssimo de Nevogilde de 1537 a 1696, memorizou:
Tomei posse desta Igreja aos vinte e coatro de Julho do anno de seiscentos e sincoenta e quatro. Favore Dei optimi he Maximi. Manoel de Oliveira.
Em 1676 foi nomeado pelo bispo do Porto D. Fernando Correia de Lacerda, visitador na comarca da Maia com o título de Protonotário Apostólico de Sua Santidade.
Em Setembro de 1677 teve a sua paróquia a visitação do Dr. Pantalião Ferreira de Melo, abade de Santiago de Silvade, em representação do aludido bispo do Porto, que concluiu, desta sua inspecção, que o Rev.do Abade tem provido com tanto zello as obras que lhe pertencem e os fregueses a seu exemplo, zellando tanto a obediência do que lhes toca que merecem louvor, e escuzão advertencias pera o augmento[2].
† em 17-8-1681, em S. Veríssimo de Nevogilde, em pleno exercício do seu cargo, cujo assento de óbito foi assim redigido:
O Reverendo Abbade Manoel de oliveira se faleçeo em dezasette do mês de Agosto da era de 1681 annos fes testamento em que deixou sinco officios de vinte padres em cada hum, mais deixou hum legado, o coal consta do testamento que está em caza do escrivão Hjeronimo de Almeida pª em beire o coal eu não vj, era ut supra, Manoel Coelho Furtado. Consta do testamento do Reverendo Abbade Manoel de oliveira alem dos officios que deixou, os coais estão feitos deixar hum legado, e instituir por seu erdeiro e administrador delle a Manoel de beleza seu sobrinho, e o dito Manoel de beleza de andrada lhe faria hua Capella, digo, lhe mandaria dizer duas missas em cada semana, ad perpetuem, na Igreja da palmeira, na Capella de São Joseph, e em cada anno no dia de São Joseph se selebraria missa cantada de canto de órgão com sermão e que no dia tal em que elle morreçe também em cada anno se lhe faria hum officio de nove padres e o dito manoel beleza fosse administrador da tal Capella e elle allargaria a dita Capella, e a faria mais grande para o que lhe tinha dado dinheiro para alargar; e para as ditas missas assima ditas e o officio e missa cantada e sermão, deixava cento e corenta e tantas medidas, que lhe pagavão em dois cazais da maia e que os ditos vizitadores tomaçem conta deste legado. Manoel Coelho Furtado[3].
O Padre Manuel Coelho Furtado diz que não viu o testamento mas felizmente não só eu o vi[4] como possuo dele uma certidão no dossier de D. Maria Beleza de Andrade, viúva do capitão Hipólito Beleza de Andrade, extraída para obter a redução dos legados já no século XIX, como se dirá mais à frente.
No testamento instituiu o vínculo da Capela de S. José ou de S. Lourenço:
Declaro que tenho o meu Casal da freguesia de Laundes, junto a Barcelos, que não terá outro senhor e todos os anos rende cem medidas de milho e centeio, entrando vinte e quatro tostões em dinheiro e quatro galinhas, as quais medidas com as vinte que tenho em Cabalões, e com as vinte e cinco de Requião, que todas são herdade, quero que todas andem juntas e vinculadas, e que em nenhum tempo possam desunir ou apartar, e menos vender, alhear, nem hipotecar, antes sempre andem vinculadas como digo: em um só possuidor que nomearei e nos mais que atrás dele sucederem, nem todas as tais medidas possam ser confiscadas, ainda que alguns dos possuidores delas cometam, o que Deus não permita, algum crime contra Lei Divina ou Humana, porque desde agora hei por privado a qualquer deles, e a todas das tais medidas, e quero passem a outro meu Parente, e de presente por minha morte, nomeio nela ao Senhor Manuel Beleza de Andrade, cavaleiro de São Tiago e ele nomeará depois ao filho que quiser, mas qualquer deles será obrigado, a do rendimento das medidas, mandar dizer todos os anos e para sempre na Igreja da Freguesia onde nasci, um anual às terças-feiras de cada semana de missas do Patriarca São José, e no seu dia missa cantada e pregação, como sempre se fez; e outro sim mandarão dizer em todas as sextas-feiras do ano uma missa da Paixão, pagando sessenta reis de esmola por cada missa que todas se dirão na mesma Igreja e com responso nas sepulturas que lhes disserem, e não as poderão dizer em outra parte que não seja na dita freguesia. E quero que estas medidas sempre andem encapeladas e unidas como tenho dito, e peço ao dito senhor Manuel Beleza mande abrir e alargar para o Adro a Capela de S. Lourenço, precedendo a licença do Ilustríssimo Senhor Reitor da Universidade de Coimbra, que como é para maior ornato da Igreja a concederá, e para gasto e feitio da tal Capela despenderá o dinheiro que em seu poder tenho depositado, assim em prata como ouro, e desfará a minha prata lavrada que também tem em seu poder, excepto os gomis dourados e o meu cordão de ouro, digo em seu poder, e o meu cordão de ouro que dá duas voltas, excepto os gomis dourados que deixo à Confraria do Santíssimo Sacramento da mesma Igreja da Palmeira, e também o preço do meu negro Manuel que venderá e cobrará as dívidas que se me devem que estão em outro papel e meu sobrinho o Padre Dom José do Espírito Santo contribuirá para ela na forma do testamento de sua mãe pois é para bem das almas de todos e deixo ao dito Senhor em mostra de gratidão deste trabalho, que muito peço queira aceitar, o meu Casal de Laundes com obrigação de dar cinquenta mil reis para ajuda dos gastos da tal Capela na qual mande sejam tresladados meus ossos em uma sepultura que no meio dela se fará na qual ninguém mais será sepultado e se o for dos meus defuntos se porão das bandas e aí se sepultarão querendo os Administradores da tal Capela e poderá ele unir as ditas medidas a algum Vínculo que de seus bens fizer.
Foi crismado pelo bispo do Porto D. João de Valadares, em 20-5-1631, juntamente com os irmãos Inácia e Jerónimo de Oliveira, na Igreja de S. Miguel da Palmeira.
Matriculou-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra em 13-10-1636 e aí tomou o grau de bacharel em 27-4-1641.
No Arquivo da Universidade de Coimbra, na data da matrícula num dos anos lectivos, em 14-10-1639, de Manuel de Oliveira filho de Francisco de Oliveira de Matosinhos, vem logo a seguir, na mesma data, a matrícula, também na Faculdade de Cânones, do parente Marcos de Andrade, filho de Manuel Jorge de Matosinhos, diz a matrícula, mas exactamente era da freguesia de S. Miguel da Palmeira, sendo este Manuel Jorge, mestre piloto e senhorio de seus navios, pai de D. Maria Jorge de Andrada Rua mulher do capitão António Gonçalves Beleza que foram os pais de Manuel Beleza de Andrade, o já aludido primeiro administrador do Vínculo de S. Lourenço.
Foi abade da freguesia de S. Veríssimo de Nevogilde, no termo de Lousada, tendo tomado posse da Igreja em 24-7-1654 e aí exerceu o múnus sacerdotal durante 27 anos.
No livro de registos paroquiais da Igreja de S. Veríssimo de Nevogilde de 1537 a 1696, memorizou:
Tomei posse desta Igreja aos vinte e coatro de Julho do anno de seiscentos e sincoenta e quatro. Favore Dei optimi he Maximi. Manoel de Oliveira.
Em 1676 foi nomeado pelo bispo do Porto D. Fernando Correia de Lacerda, visitador na comarca da Maia com o título de Protonotário Apostólico de Sua Santidade.
Em Setembro de 1677 teve a sua paróquia a visitação do Dr. Pantalião Ferreira de Melo, abade de Santiago de Silvade, em representação do aludido bispo do Porto, que concluiu, desta sua inspecção, que o Rev.do Abade tem provido com tanto zello as obras que lhe pertencem e os fregueses a seu exemplo, zellando tanto a obediência do que lhes toca que merecem louvor, e escuzão advertencias pera o augmento[2].
† em 17-8-1681, em S. Veríssimo de Nevogilde, em pleno exercício do seu cargo, cujo assento de óbito foi assim redigido:
O Reverendo Abbade Manoel de oliveira se faleçeo em dezasette do mês de Agosto da era de 1681 annos fes testamento em que deixou sinco officios de vinte padres em cada hum, mais deixou hum legado, o coal consta do testamento que está em caza do escrivão Hjeronimo de Almeida pª em beire o coal eu não vj, era ut supra, Manoel Coelho Furtado. Consta do testamento do Reverendo Abbade Manoel de oliveira alem dos officios que deixou, os coais estão feitos deixar hum legado, e instituir por seu erdeiro e administrador delle a Manoel de beleza seu sobrinho, e o dito Manoel de beleza de andrada lhe faria hua Capella, digo, lhe mandaria dizer duas missas em cada semana, ad perpetuem, na Igreja da palmeira, na Capella de São Joseph, e em cada anno no dia de São Joseph se selebraria missa cantada de canto de órgão com sermão e que no dia tal em que elle morreçe também em cada anno se lhe faria hum officio de nove padres e o dito manoel beleza fosse administrador da tal Capella e elle allargaria a dita Capella, e a faria mais grande para o que lhe tinha dado dinheiro para alargar; e para as ditas missas assima ditas e o officio e missa cantada e sermão, deixava cento e corenta e tantas medidas, que lhe pagavão em dois cazais da maia e que os ditos vizitadores tomaçem conta deste legado. Manoel Coelho Furtado[3].
O Padre Manuel Coelho Furtado diz que não viu o testamento mas felizmente não só eu o vi[4] como possuo dele uma certidão no dossier de D. Maria Beleza de Andrade, viúva do capitão Hipólito Beleza de Andrade, extraída para obter a redução dos legados já no século XIX, como se dirá mais à frente.
No testamento instituiu o vínculo da Capela de S. José ou de S. Lourenço:
Declaro que tenho o meu Casal da freguesia de Laundes, junto a Barcelos, que não terá outro senhor e todos os anos rende cem medidas de milho e centeio, entrando vinte e quatro tostões em dinheiro e quatro galinhas, as quais medidas com as vinte que tenho em Cabalões, e com as vinte e cinco de Requião, que todas são herdade, quero que todas andem juntas e vinculadas, e que em nenhum tempo possam desunir ou apartar, e menos vender, alhear, nem hipotecar, antes sempre andem vinculadas como digo: em um só possuidor que nomearei e nos mais que atrás dele sucederem, nem todas as tais medidas possam ser confiscadas, ainda que alguns dos possuidores delas cometam, o que Deus não permita, algum crime contra Lei Divina ou Humana, porque desde agora hei por privado a qualquer deles, e a todas das tais medidas, e quero passem a outro meu Parente, e de presente por minha morte, nomeio nela ao Senhor Manuel Beleza de Andrade, cavaleiro de São Tiago e ele nomeará depois ao filho que quiser, mas qualquer deles será obrigado, a do rendimento das medidas, mandar dizer todos os anos e para sempre na Igreja da Freguesia onde nasci, um anual às terças-feiras de cada semana de missas do Patriarca São José, e no seu dia missa cantada e pregação, como sempre se fez; e outro sim mandarão dizer em todas as sextas-feiras do ano uma missa da Paixão, pagando sessenta reis de esmola por cada missa que todas se dirão na mesma Igreja e com responso nas sepulturas que lhes disserem, e não as poderão dizer em outra parte que não seja na dita freguesia. E quero que estas medidas sempre andem encapeladas e unidas como tenho dito, e peço ao dito senhor Manuel Beleza mande abrir e alargar para o Adro a Capela de S. Lourenço, precedendo a licença do Ilustríssimo Senhor Reitor da Universidade de Coimbra, que como é para maior ornato da Igreja a concederá, e para gasto e feitio da tal Capela despenderá o dinheiro que em seu poder tenho depositado, assim em prata como ouro, e desfará a minha prata lavrada que também tem em seu poder, excepto os gomis dourados e o meu cordão de ouro, digo em seu poder, e o meu cordão de ouro que dá duas voltas, excepto os gomis dourados que deixo à Confraria do Santíssimo Sacramento da mesma Igreja da Palmeira, e também o preço do meu negro Manuel que venderá e cobrará as dívidas que se me devem que estão em outro papel e meu sobrinho o Padre Dom José do Espírito Santo contribuirá para ela na forma do testamento de sua mãe pois é para bem das almas de todos e deixo ao dito Senhor em mostra de gratidão deste trabalho, que muito peço queira aceitar, o meu Casal de Laundes com obrigação de dar cinquenta mil reis para ajuda dos gastos da tal Capela na qual mande sejam tresladados meus ossos em uma sepultura que no meio dela se fará na qual ninguém mais será sepultado e se o for dos meus defuntos se porão das bandas e aí se sepultarão querendo os Administradores da tal Capela e poderá ele unir as ditas medidas a algum Vínculo que de seus bens fizer.
As obras da Capela impostas nessa disposição de última vontade, pelo Dr. Manuel de Oliveira, serão referidas quando eu tratar de Manuel Beleza de Andrade.
Na Capela (ver imagem nº 2) do vínculo instituído pelo Padre Dr. Manuel de Oliveira, situada em a nave lateral esquerda da Igreja de Leça da Palmeira encontra-se gravada na parede do lado nascente a seguinte inscrição (ver também imagem número 3):
Na Capela (ver imagem nº 2) do vínculo instituído pelo Padre Dr. Manuel de Oliveira, situada em a nave lateral esquerda da Igreja de Leça da Palmeira encontra-se gravada na parede do lado nascente a seguinte inscrição (ver também imagem número 3):
ESTA CAPELLA MANDOV FAZER
O Dor Mel DE OLIVRA Pª SI E SEV
ADMINISTRADOR Mel BELE
ZA DE ANDRADE CAVALro DE
S TIAGO E MAIS SVCESSO
RES AO VINCVLO O ANNO 1681
No caixotão central, também de granito, da abóbada está esculpido o brasão (ver imagem nº 1), sem timbre e paquife, com a seguinte leitura heráldica:
I e IV – ANDRADE
II – OLIVEIRA
III - BELEZA
O Dicionário Geográfico de Portugal – Memórias Paroquiais de 1758, existente na Torre do Tombo, refere-se nos seguintes termos a este vínculo e capela, ao descrever a Igreja paroquial, no capítulo respeitante a S. Miguel da Palmeira:
Na nave septentrional, tem correspondente outra Capella semelhante, ainda que mais baixa, de S. Lourenço que instituio Manoel de Oliveyra, Abade que foy de S. Veríssimo de Nevogilde para seu jazigo, anno de 1681 = com bens vinculados, que deixou a seu sobrinho Manoel Belleza de Andrade, e seus sucessores, com livre nomeação, de qualquer filho: administra agora João Belleza de Andrade de Matosinhos, netto do dito Manoel Belleza: por nomeação de seu pay Francisco Xavier Belleza, preferindo-o ao Primogénito.
Neste documento vem a afirmação de que o primeiro administrador Manuel Beleza de Andrade era sobrinho do instituidor; e o mesmo grau de parentesco foi atribuido pelo padre Manuel Coelho Furtado ao redigir o assento de óbito do Dr. Manuel de Oliveira, como atrás ficou registado.
Posto que pelos laços de consanguinidade eles sejam duplamente primos, a diferença de graus no cômputo de gerações a partir do tronco comum, pela forma de tratamento costumeiro, coloca o mais novo em geração, Manuel Beleza de Andrade, na posição de sobrinho. Anselmo Braamcamp Freire também dá conta dessa forma de tratamento[5].
Com efeito o Dr. Manuel de Oliveira está uma geração atrás de Manuel Beleza de Andrade, por linha colateral como é evidente, e são duplamente parentes em quinto grau, pois o pai daquele é irmão do avô paterno de Manuel Beleza de Andrade, e a mãe do abade é irmã do avô materno de Manuel Beleza de Andrade. Este Manuel Beleza de Andrade é filho do capitão António Gonçalves Beleza e de sua mulher D. Maria Jorge de Andrada Rua, neto paterno de Manuel Gonçalves Beleza e de sua mulher Ana Luis Pires, e neto materno de Manuel Jorge e de sua mulher Maria da Rua de Andrada, todos de Leça da Palmeira.
Em subsequente estudo se verá que D. Maria Beleza de Andrade, viúva do seu primo o capitão Hipólito Beleza de Andrade, que foi o quarto administrador do vínculo de S. Lourenço, encontrava dificuldades, já no século XIX, em satisfazer os legados impostos pelo instituidor, em resultado da inflação produzida em mais de um século. Não encontrava sacerdotes disponíveis em virtude da exiguidade do estipêndio de 60 reis para o celebrante das missas impostas. Ademais, alegava, existiam poucos sacerdotes na freguesia e, os existentes, preferiam celebrar as missas na Igreja do Senhor de Bouças de Matosinhos, onde percebiam esmolas mais avultadas pela grande devoção e concurso de fiéis. Com estes fundamentos requereu à Santa Sé a redução dos legados.
Por sentença de 15-6-1818, foi reconhecida a justeza da pretensão da requerente. Nessa conformidade, decretou-se a redução a metade quer das 52 missas que o instituidor mandou celebrar anualmente nas terças-feiras de cada semana em louvor de S. José, como das 52 ditas nas sextas-feiras em louvor da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo estipêndio de sessenta reis.
Antecipa-se a trágica notícia, na sede própria desenvolvida, de que D. Maria Beleza de Andrade faleceu, em errado diagnóstico nos conceitos clínicos da época, em 1-7-1833, mas vítima de morte aparente, foi sepultada viva no carneiro da Capela de S. Lourenço, e por ter sido a última pessoa aí inumada, foi encontrado, cerca de oitenta anos depois, o seu cadáver nas escadas e o caixão rebentado. Uma morte pavorosa!
A Capela actualmente está consagrada ao Sagrado Coração de Jesus e a imagem é da autoria de Francisco Couceiro (1863-1940), escultor portuense que foi discípulo de seu pai António Couceiro, outro notável escultor[8].
Os administradores do vínculo foram sucessivamente:
1 – Manuel Beleza de Andrade n. a 17-8-1642 e † a 30-9-1711
2 – Francisco Xavier Beleza de Andrade n. a 10-12-1675, † a 16-3-1744, filho do antecessor
3 – capitão João Beleza de Andrade n. 12-4-1718, † 4-9-1783, filho do antecessor
4 – capitão Hipólito Beleza de Andrade n. 13-8-1743, † 4-2-1814, filho do antecessor
O Dor Mel DE OLIVRA Pª SI E SEV
ADMINISTRADOR Mel BELE
ZA DE ANDRADE CAVALro DE
S TIAGO E MAIS SVCESSO
RES AO VINCVLO O ANNO 1681
No caixotão central, também de granito, da abóbada está esculpido o brasão (ver imagem nº 1), sem timbre e paquife, com a seguinte leitura heráldica:
I e IV – ANDRADE
II – OLIVEIRA
III - BELEZA
O Dicionário Geográfico de Portugal – Memórias Paroquiais de 1758, existente na Torre do Tombo, refere-se nos seguintes termos a este vínculo e capela, ao descrever a Igreja paroquial, no capítulo respeitante a S. Miguel da Palmeira:
Na nave septentrional, tem correspondente outra Capella semelhante, ainda que mais baixa, de S. Lourenço que instituio Manoel de Oliveyra, Abade que foy de S. Veríssimo de Nevogilde para seu jazigo, anno de 1681 = com bens vinculados, que deixou a seu sobrinho Manoel Belleza de Andrade, e seus sucessores, com livre nomeação, de qualquer filho: administra agora João Belleza de Andrade de Matosinhos, netto do dito Manoel Belleza: por nomeação de seu pay Francisco Xavier Belleza, preferindo-o ao Primogénito.
Neste documento vem a afirmação de que o primeiro administrador Manuel Beleza de Andrade era sobrinho do instituidor; e o mesmo grau de parentesco foi atribuido pelo padre Manuel Coelho Furtado ao redigir o assento de óbito do Dr. Manuel de Oliveira, como atrás ficou registado.
Posto que pelos laços de consanguinidade eles sejam duplamente primos, a diferença de graus no cômputo de gerações a partir do tronco comum, pela forma de tratamento costumeiro, coloca o mais novo em geração, Manuel Beleza de Andrade, na posição de sobrinho. Anselmo Braamcamp Freire também dá conta dessa forma de tratamento[5].
Com efeito o Dr. Manuel de Oliveira está uma geração atrás de Manuel Beleza de Andrade, por linha colateral como é evidente, e são duplamente parentes em quinto grau, pois o pai daquele é irmão do avô paterno de Manuel Beleza de Andrade, e a mãe do abade é irmã do avô materno de Manuel Beleza de Andrade. Este Manuel Beleza de Andrade é filho do capitão António Gonçalves Beleza e de sua mulher D. Maria Jorge de Andrada Rua, neto paterno de Manuel Gonçalves Beleza e de sua mulher Ana Luis Pires, e neto materno de Manuel Jorge e de sua mulher Maria da Rua de Andrada, todos de Leça da Palmeira.
Em subsequente estudo se verá que D. Maria Beleza de Andrade, viúva do seu primo o capitão Hipólito Beleza de Andrade, que foi o quarto administrador do vínculo de S. Lourenço, encontrava dificuldades, já no século XIX, em satisfazer os legados impostos pelo instituidor, em resultado da inflação produzida em mais de um século. Não encontrava sacerdotes disponíveis em virtude da exiguidade do estipêndio de 60 reis para o celebrante das missas impostas. Ademais, alegava, existiam poucos sacerdotes na freguesia e, os existentes, preferiam celebrar as missas na Igreja do Senhor de Bouças de Matosinhos, onde percebiam esmolas mais avultadas pela grande devoção e concurso de fiéis. Com estes fundamentos requereu à Santa Sé a redução dos legados.
Por sentença de 15-6-1818, foi reconhecida a justeza da pretensão da requerente. Nessa conformidade, decretou-se a redução a metade quer das 52 missas que o instituidor mandou celebrar anualmente nas terças-feiras de cada semana em louvor de S. José, como das 52 ditas nas sextas-feiras em louvor da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo estipêndio de sessenta reis.
Antecipa-se a trágica notícia, na sede própria desenvolvida, de que D. Maria Beleza de Andrade faleceu, em errado diagnóstico nos conceitos clínicos da época, em 1-7-1833, mas vítima de morte aparente, foi sepultada viva no carneiro da Capela de S. Lourenço, e por ter sido a última pessoa aí inumada, foi encontrado, cerca de oitenta anos depois, o seu cadáver nas escadas e o caixão rebentado. Uma morte pavorosa!
A Capela actualmente está consagrada ao Sagrado Coração de Jesus e a imagem é da autoria de Francisco Couceiro (1863-1940), escultor portuense que foi discípulo de seu pai António Couceiro, outro notável escultor[8].
Os administradores do vínculo foram sucessivamente:
1 – Manuel Beleza de Andrade n. a 17-8-1642 e † a 30-9-1711
2 – Francisco Xavier Beleza de Andrade n. a 10-12-1675, † a 16-3-1744, filho do antecessor
3 – capitão João Beleza de Andrade n. 12-4-1718, † 4-9-1783, filho do antecessor
4 – capitão Hipólito Beleza de Andrade n. 13-8-1743, † 4-2-1814, filho do antecessor
5 – João Beleza de Andrade † 3-5-1824, filho do antecessor
6 – António Beleza de Andrade n. 28-10-1802, † 28-7-1870, irmão do antecessor, foi o último administrador até à extinção dos vínculos pelo regime liberal.
***
Sobre o vínculo de S. Lourenço ou de S. José, e que no tempo de Francisco Xavier Beleza de Andrade, seu 2º administrador, também era chamado de Santa Quitéria, ver:
Monografia de Matosinhos, de Guilherme Felgueiras, edição da Câmara Municipal de Matosinhos, pág. 416 e 780.
O Tripeiro, revista portuense, de Maio de 1959, em artigo da minha autoria.
Boletim da Biblioteca Pública Municipal de Matosinhos, nº 9, Agosto de 1962, pág. 105 e seguintes, no estudo da minha autoria A Igreja Paroquial de Leça da Palmeira – subsídios para a história da freguesia.
Pedras de Armas de Matosinhos, 1960, pelo Dr. Alberto Laura Moreira e Artur Vaz-Osório da Nóbrega, pág. 94.
Matriz de Leça da Palmeira, 1987, de Jorge Bento que publicou a fotografia da capela sob a estampa nº VIII.
Ratos Entre Papeis Velhos, de Jorge Bento, 1991, no capítulo A Emparedada de Leça, pág. 83, refere que D. Maria Beleza de Andrade foi sepultada viva no carneiro.
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Sobre o vínculo de S. Lourenço ou de S. José, e que no tempo de Francisco Xavier Beleza de Andrade, seu 2º administrador, também era chamado de Santa Quitéria, ver:
Monografia de Matosinhos, de Guilherme Felgueiras, edição da Câmara Municipal de Matosinhos, pág. 416 e 780.
O Tripeiro, revista portuense, de Maio de 1959, em artigo da minha autoria.
Boletim da Biblioteca Pública Municipal de Matosinhos, nº 9, Agosto de 1962, pág. 105 e seguintes, no estudo da minha autoria A Igreja Paroquial de Leça da Palmeira – subsídios para a história da freguesia.
Pedras de Armas de Matosinhos, 1960, pelo Dr. Alberto Laura Moreira e Artur Vaz-Osório da Nóbrega, pág. 94.
Matriz de Leça da Palmeira, 1987, de Jorge Bento que publicou a fotografia da capela sob a estampa nº VIII.
Ratos Entre Papeis Velhos, de Jorge Bento, 1991, no capítulo A Emparedada de Leça, pág. 83, refere que D. Maria Beleza de Andrade foi sepultada viva no carneiro.
Já no Jornal de Leça o Dr. Alberto Moreira escrevera em Setembro de 1957: Contou-me o referido Abade Mondego que, aquando das obras de restauro da capela (1904 a 1906), foram encontradas umas ossadas nas escadas de descida ao carneiro, estando rebentada uma urna.
Complementei esta obra de Jorge Bento com novos elementos em estudo publicado no Jornal de Matosinhos, de 6 de Setembro a 25 de Outubro de 1991, de que saiu separata sob o título O Vínculo de S. Lourenço.
Complementei esta obra de Jorge Bento com novos elementos em estudo publicado no Jornal de Matosinhos, de 6 de Setembro a 25 de Outubro de 1991, de que saiu separata sob o título O Vínculo de S. Lourenço.
Ver também o blog do meu Ilustre Primo Dr. Luis Filipe Beleza Gonçalves Vaz:
Notas:
[1] Misto S. Miguel da Palmeira 1608-1634, fls. 65.
[2] Misto paroquial de S. Veríssimo de Nevogilde, do concelho de Lousada, de 1537-1696, fls. 101 e seguintes.
[3] Livro misto da freguesia de S. Veríssimo de Nevogilde, concelho de Lousada, 1537-1696, fls. 145 verso e 146. Porém, a fls. 145 do mesmo livro está escrito: Reverendo Abbade Manuel de oliveira se faleseo em 18 de Agosto de 1681 deixou sinco officios de vinte padres cada hum. Mas na indicação do dia tem emendado o 8 para 7, razão por que falecera no dia 17, como consta do assento primeiramente transcrito.
[4] Está no Arq. Distrital do Porto – Governo Civil (Provedoria), livro 191 fls. 208, cujo traslado vem com o título: Registo da Instituição de legado de que he admenistrador o Capitão João Veleza de Andrade, da freguesia de Matosinhos.
[5] In Brasões da Sala de Sintra II, pág. 204.
[6] In Douro Litoral, Boletim da Comissão de Etnografia e História, séptima série, I-II, Porto, 1956, pág. 97.
[7] N.os 562 a 569 (de 6 de Setembro a 25 de Outubro de 1991.
[8] Tripeiro V série, ano IV, pág. 65.
[1] Misto S. Miguel da Palmeira 1608-1634, fls. 65.
[2] Misto paroquial de S. Veríssimo de Nevogilde, do concelho de Lousada, de 1537-1696, fls. 101 e seguintes.
[3] Livro misto da freguesia de S. Veríssimo de Nevogilde, concelho de Lousada, 1537-1696, fls. 145 verso e 146. Porém, a fls. 145 do mesmo livro está escrito: Reverendo Abbade Manuel de oliveira se faleseo em 18 de Agosto de 1681 deixou sinco officios de vinte padres cada hum. Mas na indicação do dia tem emendado o 8 para 7, razão por que falecera no dia 17, como consta do assento primeiramente transcrito.
[4] Está no Arq. Distrital do Porto – Governo Civil (Provedoria), livro 191 fls. 208, cujo traslado vem com o título: Registo da Instituição de legado de que he admenistrador o Capitão João Veleza de Andrade, da freguesia de Matosinhos.
[5] In Brasões da Sala de Sintra II, pág. 204.
[6] In Douro Litoral, Boletim da Comissão de Etnografia e História, séptima série, I-II, Porto, 1956, pág. 97.
[7] N.os 562 a 569 (de 6 de Setembro a 25 de Outubro de 1991.
[8] Tripeiro V série, ano IV, pág. 65.
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